A política deveria ser a arte da gestão da coisa pública; um sistema de
regras relacionadas à direção dos negócios, à arte de bem governar.
Ao invés disso, tornou-se a de se chegar ao poder e permanecer nele
indefinidamente, privilegiando amigos e parentes, naquilo que se
convencionou chamar de nepotismo, que, no dizer do Aurélio, é a
autoridade que os sobrinhos e outros parentes do Papa exerciam na
administração: favoritismo, patronato. Nepotismo veio do francês, mas
sua origem remota é o latim nepote, declinação de nepos, sobrinho;
segundo o professor Deonísio da Silva, que acrescenta: “O problema não é
ser parente, o problema é não trabalhar”. E mais: “ à sombra do poder,
os nepotistas passaram a viver como nababos, do árabe nawwab, plural de
nãob, espécia de vice-rei, nomeado pelo grão-mogol.”
Correligionário é um adjetivo que designa pessoa da mesma religião,
partido, doutrina ou sistema, quer dizer, o exercício do nepotismo se dá
entre os correligionários, os que formam as panelinhas, que no mesmo
dicionário diz ser um conluio para fins pouco sérios, grupo de políticos
que, no poder, procuram obter vantagens individuais, muito fechado.
Nepotismo e correligionarismo estão de mãos dadas na política, que se
exerce nos governos , nas empresas e em instituições diversas, bem como
nas estruturas eclesiásticas. O ilusionismo fantasioso projetado por
aqueles que aspiram ao poder contrasta, fortemente, com o marasmo e a
inércia, depois de consegui-lo.
E o assunto se repete através dos tempos: o político eleito nada tem a
ver com o humilde candidato, que prometia o impossível e se arrogava à
condição de salvador da pátria, redentor milagreiro e resolutivo das
causas perdidas.
O candidato continua se comportando como tal; a menos de um novo ar de
suficiência vaidosa, que os próprios amigos e parentes chegam a
estranhar.
O poder e a riqueza são, infelizmente, indissociáveis da ambição. O
político sabe disto, e que tudo pode chegar com muita facilidade.
Não podemos nos conformar com a crença retrógada de que o voto implique
a democracia; e nem que duas ou três pessoas possam escolher pelas
demais. O governo do povo para o povo é aquele que o representa e serve.
Seria o poder constituído fazendo cumprir os anseios populares e a Lei
Maior, que não pode ser letra morta.
Educação, saúde, trabalho, segurança e preservação do meio ambiente
deveriam ser os temas que ocupassem as mentes do homem público, e não a
forma de se chegar ao poder e permanecer nele.
O homem público deveria ser aquele de vida privada resolvida e, por sua
capacidade e seriedade, pudesse colaborar, temporariamente, para a
construção e o aperfeiçoamento de uma Nação, que abrigará, no futuro, os
nossos descendentes. A vitaliciedade e a recondução indefinida aos
cargos não são compatíveis com um regime democrático; nem a
obrigatoriedade e a falta de ponderação do voto.
Enquanto a política for encarada como profissão, onde os interesses
pessoais estejam acima do público, os políticos não merecerão outro
conceito que têm na atualidade, e muito pouco diz em seus favores.