Agradavam-me os dias chuvosos e as doenças infantis que me faziam ficar em casa sem ir para a escola.
A chuva, com seus cheiros e estrondos, a tarde anoitecida pelo temporal, o estalido seco do pingo no zinco, o frio, a cama, o cobertor, a mãe rondando os silêncios da casa vazia seriam as recordações de um futuro repleto de passado.
Os acontecimentos fluiriam lentamente, sugados pelo buraco do tempo, por onde a areia desce vagarosamente na infância, e decidida e apressadamente, conforme chegam os anos e passa uma vida para dar lugar à outra.
Tudo se define no tempo e se explica na recordação; flui do futuro para o passado através de um presente que vai tendo cada vez mais significado.
Fosse a chuva, a catapora ou um simples resfriado, o importante era não sair, ficar ali infinitas vezes, até que aquela casa passasse a viver eternamente em meu coração.