Uma coisa é escrever, outra publicar. Em Cartas a Um Jovem Poeta, Rilke deixa isto muito bem explicado. Orienta o companheiro de correspondência para se consultar sobre a necessidade de escrever. Você morreria se fosse impossibilitado? É uma necessidade vital?
Entre esse e outros conselhos, instrui o artista em formação a viver mais dentro de si e menos envolvido nas vacuidades do mundo exterior; que não pense no sucesso para os outros, mas na indizível felicidade de encontrar alegria no convívio consigo mesmo.
“Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, esta esplêndida e régia riqueza, este tesouro de recordações?”, escreveu na primeira carta do livro em 17 de Fevereiro de 1903 enviada de Paris.
As dez cartas que Rainer Maria Rilke (1875-1926) escreveu a Franz Xavier Kapus entre 1903 e 1928 foram editadas na Alemanha em 1929. Nascido em Praga, ele foi um dos principais poetas da moderna literatura alemã.
Rilke não gostava da religião organizada e tinha profunda desconfiança da profissão médica; talvez por isso tenha morrido prematuramente de leucemia não diagnosticada. Seus pais eram de classe média e falavam alemão. Aos 20 anos já havia publicado dois livros. Sua existência era sua poesia.
A psicanalista Lou Andreas – Salomé, que fora treinada por Freud, foi sua namorada e mentora. Ela o aconselhou a trocar o nome René por Rainer. Consta que teria sido boa professora. Ele conviveu com Rodin, Cezane e Picasso. Viajou por toda da Europa.
Casou-se com a escultora alemã Clara Westhoff em 1903 e teve uma filha, Ruth, mas logo abandonou a família atraído pelas luzes de Paris onde publicou muitos livros. Viajou muito e participou da Primeira Guerra. Afastou-se da Alemanha por considerá-la causadora daquele grande conflito bélico.
Escreveu milhares de cartas para centenas de pessoa, verdadeiros ensaios para seus poemas no aparente silêncio do período da guerra.
O jovem e atormentado poeta quis deixar consignado o testemunho do que viveu e sentiu. No meio de seus escritos encontram-se reflexões sentidas e lúcidas sobre diversos aspectos da vida do ser humano. Para ele, a morte seria “a outra metade da vida”.
“Posse é pobreza e medo: a posse despreocupada é ter possuído algo e dele ter aberto mão!”
“Em algum lugar, o mais denso matagal pode produzir folhas, uma flor, uma fruta. E, em algum lugar, na providência mais extrema de Deus, haverá também um inseto que colherá riqueza dessa flor, ou uma fome a qual essa fruta será bem-vinda.”
“Muitas vezes na vida parece que nada importa senão a mais longa paciência!”
“Por fim – nós o sabemos -, a pequena sabedoria da vida consiste em esperar (mas esperar no estado de espírito certo, puro), e a grande graça que de tempos em tempos nos é concedida consiste em sobreviver.”
Extraído do livro Deus e os Detalhes