No botequim do Hugo conheci meu colega de bercário. Na verdade era ele e
mais um, pois havia o gêmeo. Foi meio louco. Revi o cara depois de 61
anos. Mas aquela fisionomia era inesquecível. Conheço o sujeito de algum
lugar, pensei.Depois de um e outro gole de cerveja, perguntei quantos
anos ele tinha. Sessenta e um.Então você é de 48. Sim, Setembro. Eu
também. Que dia? Oito. Eu de seis. Que coincidência! Nasci na Pró
Matre, ele disse.Eu também. Então estávamos juntos no berçário!Nós três,
ele disse, com o meu gêmeo.
Trocamos cartões, e-mails, telefones. Pra maior surpresa descobrimos que
éramos vizinhos na Itacema, sem jamais nos termos visto.
A vida é assim. Nascemos estranhos, morreremos também.Talvez estejamos
juntos na lápide fatal. E lá, de túmulo a túmulo, a conversa inaudível
dos vivos que não se comunicam, até que o musgo cubra os nossos lábios,
até que silenciemos para sempre.
(Escrito há dez anos.
Um gêmeo faleceu; logo depois, o outro).