A boate havia sido inaugurada no primeiro semestre de 67. Plagiara o nome do Centro Acadêmico da Escola de Engenharia Mauá, onde eu iniciara o curso naquele ano. Os estudantes tinham entrada franca pra compensar; a Mau-Mau era na Major Sertório, defronte da famosa La Licorne, frequentada e badalada por celebridades de todo o mundo.
Num sábado garoento de junho, fui com um amigo e duas meninas. Bar lotado, fumaça, falatório, música alta.
Pedimos uma garrafa de Passport.
Um sujeito encostou à mesa, não havia onde sentar.
É o Gilberto Gil! disse o amigo.
Quem?
Gil, cantor, esteve no programa da Elis.
Não conheço, respondi.
Quer sentar?
O cara acedeu e logo foi se servindo do whisky.
Depois de trocar umas palavras, fui ao banheiro. A conversa com as meninas estava aborrecida e o sujeito era estranho, fechado.
Vamos sumir? disse pro amigo.
E deixar a conta para eles?
É.Pareceu boa ideia. Caímos fora morrendo de rir, coisa de moleque.
Nunca soubemos como a história terminou.
Depois o sujeito seguiu carreira, festivais, exílio, novos baianos, Rita Lee, Mutantes. Chegou até a ser ministro da cultura do Lula.
Hoje defende um governo deposto deplorável, com outros Chicos, Caetanos e velhos baianos. Não entenderam que educação, cultura e honestidade devem andar de braços dados, e aqueles artistas poderiam ajudar a juventude a pensar e se livrar do engano, da corrupção e da mentira.
E pensar que eram os jovens, na década de sessenta, dizendo-se libertários, lutadores, contra a ditadura dos militares, os quais cerceavam as liberdades.
Parece que eles mudaram de lado. A cultura passou a ser um grande negócio, onde o dinheiro do Estado chega com muita facilidade aos artistas, já muito bem de vidas, ao invés de incentivar os principiantes, a saúde e a educação.
O Brasil diminuiu.
Os novos baianos ficaram velhos. E curtos.