Na histórica conferência pronunciada em Edimburgo no ano de 1912, a pensadora Annie Besant procurava demonstrar, racionalmente, que se estaria no advento de uma nova era para a humanidade, com a vinda de um grande instrutor naquele século; alguém que viesse ensinar aos homens o caminho da iniciação e do aperfeiçoamento.
Para algumas religiões, o fato coincidiria com o fim de um ciclo e o início de outro, consequência do segundo advento de um salvador. Como o tão falado final dos tempos caiu em descrédito, por ter sido considerado um equívoco de interpretação dos originais gregos do Novo Testamento, também a premissa se tornou inconsistente.
Para algumas correntes ditas esotéricas ou ocultistas, a vinda periódica de instrutores seria um fato normal, e as religiões teriam sido fundadas por estes senhores. Seria o caso de se esclarecer se cada fé religiosa teria contribuído para a evolução humana. Cada consciência haveria de respondê-lo, analisando aquelas pregações e suas consequências.
A partir da tese defendida pela senhora Besant, tendo ela enunciado uma série de instrutores que, a seu critério, teriam passado pelo planeta, Hermes, Orfeu, Zoroastro, etc, vê-se a possibilidade (ou necessidade) de um novo, que abriria novos rumos para o espírito humano.
Onde estaria este instrutor? A humanidade o buscaria? Seria possível encontrá-lo sem que se o buscasse? Estaria incógnito para ser reconhecido pela posteridade?
Ninguém encontrará o instrutor que não procura, nem receberá a instrução que não quer. Admiti-lo, seria aceitar novos cárceres espirituais, dos quais o homem esclarecido já se cansou.
É possível que o instrutor esteja no interior do próprio ser humano; não uma outra pessoa, pretenso intermediário entre ele e seu Criador, mas um elo pessoal, superior e divino. E como realizar esta união? Alguém deveria ensinar o caminho: um instrutor de instrutores, que ao invés de procurar dar a Verdade em pertinência a quem não tivesse feito nenhum esforço neste sentido, ensinasse o caminho, para que cada um pudesse percorrê-lo com sua inteligência.
A possibilidade de cada ser humano poder ser seu próprio instrutor, e de um mestre de sabedoria, instrutor de instrutores, necessário em tempos tão difíceis, não invalidaria a tese inicial da pensadora, embora ela não tivesse nunca chegado a identificar o grande instrutor que vislumbrou.
Um mestre de sabedoria não poderia pedir que acreditassem em suas palavras, pois deveria ensinar a pensar; sua pedagogia seria incompatível com a aceitação passiva e cega dos que pretendessem respostas prontas às indagações humanas. Um mestre de sabedoria, mais do que um enunciador de verdades, deveria ensinar a forma como cada um as elucidasse por própria conta.
É possível que a senhora Besant tivesse sentido em si as necessidades de seus contemporâneos; que a distância temporal a nos separar dela seja a proximidade de nossas reflexões. Por isso, sua conferência foi memorável, pois históricas são as nossas humanas indagações e a busca pelo conhecimento.