Observação Consciente

Observação Consciente

 

É difícil julgar as outras pessoas sem antes haver aprendido a exercer o juízo sobre si mesmo.Julga-se, em geral, em função de apreciações alheias, pelo o que se ouviu dizer, e não pelo que realmente se observou. A observação consciente – conforme nos esclarece o pensador González Pecotche em inúmeros escritos e conferências – deveria servir, antes de tudo, para corrigir as nossas imperfeições. Assim, o que vemos de desagradável na conduta de uma outra pessoa deveria levar-nos, num primeiro momento, a verificar se não existe em nós mesmos aquela característica negativa que compõe a nossa personalidade.Mas o ser humano não sabe olhar para si próprio; olha o mundo como se não fizesse parte dele; vê, mas não enxerga; não entende que todo aquele cenário está aí para transformá-lo em diretor e ator do espetáculo de sua própria vida. Ao invés disto, gasta seu tempo olhando, admirando ou criticando o espetáculo de outras vidas, outros mundos, esquecendo-se de si próprio, e que dentro dele existe um pequeno mundo, um universo no qual poderia viver e ser feliz.

 

Esta falha gritante das culturas que nos precederam –com raras e honrosas exceções para alguns pensadores, que podemos contar nos dedos das mãos – engendrou nas mentes humanas a tendência ao escapismo, a viver fora de sua realidade interior. O ser humano está sempre a fugir de si: no trabalho, nas diversões, no estudo, nas leituras, nas platéias; não consegue conectar aquilo que acontece à sua volta com a realidade interior. Olhar a Natureza e tomar para si o exemplo de paciência, movimento, renovação, evolução, e exercitá-lo no diário existir através de sua capacidade de pensar, de criar e se modificar.

 

Vamo-nos transformando em atores que decoram e interpretam falas escritas por pessoas que nos antecederam, desconhecidos, atores como nós, repetindo frases e cenas a compor as tradições que – como disse certa vez González Pecotche – são o cemitério das ideias.

 

Romper com esta inércia cultural é o grande desafio desta nova humanidade no despontar do terceiro milênio. Ao voltar-se para si mesmo e educar-se, o homem do futuro, certamente, transformará o horroroso espetáculo de guerras, corrupção e violência no qual nos encontramos num cenário mais condizente com a espécie inteligente que um dia poderemos chegar a ser.

 

Ao dizer que nada sabia, Sócrates, a personagem de Platão, dá-nos a pauta de uma conduta inicial, caso queiramos realmente aprender e evoluir. Será necessário arrancar a máscara da personalidade, que nos leva a aparentar ser o que não somos, mas imaginamos. Se ela não estiver aderida à nossa epiderme psicológica, poderemos iniciar o caminho para construir a própria individualidade.