Quando John Nash descobriu que estava louco, tendo visões, alucinações diversas, ponderou, como cientista dado a lógicos raciocínios, que haveria, para ele, duas saídas: internar-se e submeter-se ao tratamento de praxe – química e choque – ou lutar contra a sua loucura, conhecê-la, debilitá-la, talvez anulá-la. Com a ajuda da esposa, enfrentou as suas alucinações, aqueles pensamentos obsessivos, que assumiam a forma humana e com ele conversavam: um imaginário colega de quarto na Universidade com sua sobrinha, e o poderoso Grande Irmão do FBI.
Se por um lado houvesse aquelas sombras mentais em sua vida – esquizofrenia pura – havia também o arcabouço – ainda intacto – de uma mente brilhante, capaz de voos matemáticos, cujas equações deslumbravam alunos e colegas.
John Nash reconheceu que estava louco e enfrentou as próprias visões, submeteu-as a uma espécie de coleira psicológica, domou-as, aquietou-as, transformou aquelas fantasmagóricas figuras em dóceis visões, as quais pouco influenciavam a sua vida. Foi um trabalho científico, metódico, disciplinado. Ele conseguiu domar a insanidade e continuar seu trabalho na pesquisa e docência universitárias.
Ao receber o Prêmio Nobel na Academia em noventa e quatro, o cientista desvela em seu discurso o segredo do sucesso na maior de suas empreitadas: enfrentar-se e domesticar suas feras mentais. Diz que as equações foram a paixão de sua vida, mas que sobre todas elas houve uma maior, complexa e misteriosa, a qual o salvou da loucura absoluta: a equação do amor escrita em seu coração por sua amada esposa o salvara de si mesmo. Nenhum raciocínio, lucubração, cálculo comparáveis à divina matemática do amor.
John Nash viveu, aguda e intensamente, o drama de todos os seres humanos, e conseguiu superar os seus temores, afastar os fantasmas, dominar os inimigos interiores através da alquimia do amor, que tudo pode, transforma, somado a um lúcido e metódico trabalho a si mesmo imposto.
O que é então o amor, senão esta força poderosa e transformadora impregnada na mais ínfima partícula do Universo?
Sem amor não há vida, futuro, passado.
Lutemos contra os nossos fantasmas,para que ele possa florir nos corações.