Uma Reflexão Sobre a Corrupção

Uma Reflexão Sobre a Corrupção

 

A política, que deveria ser a arte de gerir o bem comum, passou a ser a
de chegar ao poder e permanecer nele indefinidamente. E não é somente
exercida nos governos, em suas diversas esferas. Os políticos estão por
aí, nas empresas, em associações diversas, sindicatos, nos conluios, nas
panelinhas, sempre a atender inconfessáveis sonhos de poder e projeção,
e a conspirar contra os ingênuos e mentalmente indefesos.
A ambição não olha apenas para a riqueza; olha também para os insanos
sonhos de poder subjugar outras pessoas.
Os seres políticos são, em geral, personalidades travestidas de simpatia
e mansidão, cruéis inquisidores, críticos ácidos de todos os que não se
subjugam aos seus estreitos critérios.
O espécime político é movido por pensamentos farisaicos, medievais,
cruéis. E estes pensamentos devem ser combatidos, pois todos têm um
pouco desta mancha em suas mentes, que endurece os corações.
Aceitar imposturas passivamente é colaborar com o mal e a submissão. E a
pior escravidão é a mental.
O corrupto é um doente, que não se julga como tal. Sua atitude é de
total desprezo aos semelhantes, em prol de sua insana ambição. A
corrupção é uma praga social, que contamina as empresas, as
instituições e os governos. Os corruptos são os verdadeiros agentes da
miséria, da desigualdade social e da criminalidade.
Os alcances da corrupção são vastos; poderíamos dizer que qualquer
atitude visando benefícios próprios em detrimento dos demais é
corrupção. O conceito é amplo porque abrange a posse de riquezas e
poder em prejuízo de outras pessoas. Ela é tão danosa como as agressões
ao meio ambiente, e está muito ligada a estes crimes. A destruição da
natureza e da juventude nas guerras que se trava contra o mundo e a
humanidade é o produto perverso de mentes que se vêm corrompendo há
séculos. E a Natureza responde energicamente, mas as mentes
endurecidas pela ignorância não compreendem.
O corrupto usa de todos os expedientes – o amparo da Lei e o nome de
Deus – para consumar seus insanos sonhos de poder e riqueza.
Por detrás das atitudes do corrupto existe um pensamento obsessivo de
cobiça, que anula a inteligência e a sensibilidade da pessoa que é
escravizada pelas quimeras de um materialismo doentio, travestido de
democracia, liberalismo e misericórdia. Lutar contra a corrupção implica
combater esse pensamento que está em muitas partes, impregnado em nossa
cultura, com possibilidades de crescer e fortalecer-se, transformando
uma pessoa honesta noutra corrupta, pois é um pensamento insaciável e
perturbador, que pretende colocar o ser humano a serviço exclusivo do
lucro, posse e poder.
A vida não pode se resumir numa carreira insana na direção de prazeres
materiais, que se esfumam no momento da posse.
Lutar contra a corrupção é tarefa de todo o cidadão em qualquer esfera,
pois visa ao bem comum. É restringir o campo de ação daquelas pessoas
doentias através de uma constante vigilância sobre os corrompidos e os
corruptores. E é também lutar contra os pensamentos ambiciosos, que
perambulam por aí fazendo-nos esquecer que a vida deve ter outros
significados além da busca exclusiva por bens materiais. Trabalhar pela
educação, o estudo e a cultura é também uma forma de combater a cobiça,
doença nefasta e base de toda a corrupção.
Antes de procurar as raízes históricas da corrupção em nosso país,
remontando-nos ao Brasil – Colônia e aos primeiros dilapidadores de
nossa terra e exploradores de nossos ancestrais, que aqui estavam muito
antes dos colonizadores, a trazer sua pretensa cultura em troca de
riquezas, falemos das raízes psicológicas desta doença nefasta a
corromper  as mentes e endurecer os corações,criando miséria e injustiça
social.
A corrupção é o desrespeito total à figura humana, uma atitude
travestida de misericórdia e bondade, tão bem representada por pessoas
fingidas, a parecer o que não são nos palanques, púlpitos, nas telas das
televisões.
O corrupto é um especialista em iludir o semelhante, um camaleão social,
sempre pronto e disposto a enganar as pessoas tristemente chamadas de
boa-fé. Ele não mostra, não demonstra, não comprova. Seu discurso oco,
sorriso cínico e olhar oblíquo têm como único objetivo enganar para se
beneficiar. É um materialista incorrigível, sempre a se esconder por
detrás de uma máscara de bondade, a qual se desfaz à menor e firme
oposição inteligente.
A corrupção se confunde com hipocrisia, ambição, mentira e desumanidade.
Geradora de guerras e desentendimentos de toda a ordem é signo de
ignorância. Para eliminá-la será necessário combater o atraso e as
superstições.
A vitória sobre esta doença será o fruto de um processo lento, mas
contínuo, que deverá começar no ambiente familiar, nos bancos
escolares, para atingir todo o tecido social, educando as crianças para
a vida, a boa convivência, preservando suas mentes de pensamentos
ambiciosos e agressivos, transmitindo-lhes conceitos humanitários, que
lhes criem uma consciência de ser humano a ver a vida como um grande
campo de experiência, amizade e aprendizado, ao invés do palco onde se
desenrola o triste espetáculo das desumanidades e atrocidades dos seres
que vivem a enganar a si próprios e aos demais.
A corrupção tem suas raízes no egoísmo ancestral que trazemos conosco e
nos serviu em épocas remotas, nas quais deveríamos nos defender das
intempéries, das feras e de nossa própria ignorância. Com o passar dos
tempos, as feras que combatíamos surgiram em nossas mentes como
pensamentos que agora querem nos devorar e a nossa espécie.
 Será necessário aprender a nos preocupar inteligentemente conosco e as
demais pessoas, pois servir os outros é a maneira mais inteligente de
servir a si mesmo. E mais do que dar o peixe, que bem sabido não leva a
nada, ou mesmo ensinar a pescar, é importante saber se a pessoa ajudada
faz bom uso do bem recebido e o transmite às outras pessoas, para ser
credora de apoio futuro.
Assim é como muitas pessoas têm encontrado no voluntariado uma maneira
de combater essa praga mental, cujas raízes não foram ainda devidamente
identificadas e eliminadas.