Dona Olga ficou feliz por ter ido para o Lar Santana. A antiga casa
ficara grande e solitária. O Lar era como um hotel, parecido com aqueles
casarões antigos de Campos do Jordão, bem perto da casa onde morarara em
Pinheiros por quase sessenta anos. E lá era alegre, movimentado. Todos
os dias com programação intensa, como se estivesse num navio:
caminhadas, ginástica, biblioteca, filmes, palestras. E as refeições e
lanches movimentados, cheios de conversinhas, com aquele monte de novos
amigos. A vida era mais divertida. Mesmo aos noventa e sete anos.
E depois, as visitas. Ah!, as visitas! Filhos, netos, noras, sobrinhos,
amigos. Todo dia uma visita diferente, e muita conversa e alegria.
Na última vez que a visitei, me pediu alguns livros pra ler e trocar com
os amigos. Queria doar alguns pra aquela biblioteca enorme na qual se
podia perder de alegria em meio a tantos livros. E insistiu comigo pra
que eu não esquecesse o calendário, pois dera o dela de presente pra uma
amiga e ficara sem nenhum. Uma folhinha enorme, com números e letras
grandes, dos dias que estavam por vir, pois agora, era o que
interessava: o futuro, os planos.
Ao se despedir de mim, quis me acompanhar até o estacionamento, algumas
dezenas de metros. Não precisa, mãe, eu lhe disse. Vou sim, respondeu, já
aprendi a andar com a bengala.
E fomos os dois anciões, caminhando devagarinho, até o jardim, onde nos
despedimos.
E a deixei com a garganta apertada, mas alegre por tê-la visto tão
feliz.