Um retrato da impostura

Um retrato da impostura

 

A cultura contemporânea está baseada numa falsa liberdade política, e na equivocada ideia de que o mercado tudo regula, como as relações humanas, econômicas e sociais. Um materialismo exacerbado afastou o homem de Deus e dos semelhantes. Ao entregar nas mãos de orientadores duvidosos a solução dos seus problemas, o homem perdeu a oportunidade de pensar por própria conta, o que vem a ser um princípio de liberdade.

 

Dirigentes políticos e religiosos são impostos por grupos, partidos, associações e sindicatos, dirigidos por pessoas a ver o próprio interesse acima do comum. Egoísmo e incompetência campeiam as instituições. O mercado é regido por grandes empresas internacionais, associadas aos governos, impondo produtos, preços e padrão de consumo.

 

A grande mídia direciona os pensamentos do público para comprar o que não necessita, incrementando um crescimento econômico duvidoso, a poluir o ambiente, as mentes e os corações de pessoas previsíveis e influenciáveis, as quais querem consumir cada vez mais coisas, informação inútil, imagens de violência e desgraça, distantes cada vez mais dos semelhantes e da Natureza.

 

Muitos psicólogos escrevem textos sem sentido, dizendo, por exemplo, que o amor é um fenômeno irracional, e quem se enamora torna-se um anormal, fica cego. Mentes confusas apontam para uma felicidade utópica apoiada no sexo, riqueza, ceticismo e acaso.

 

O amor existe como gérmen em todos os corações, mas sua prática exige certa inteligência, disciplina de vida, nada a ver com a rotina aborrecida de um trabalho diário repetido, sem renovação. O apressado homem moderno imagina que o tempo seja dinheiro, e não sabe o que fazer com o sobrado, depois das correrias que acabam por afetar a sua saúde física e mental. Falta-lhe disciplina, concentração e paciência; ficar um pouco só, ativo na inteligência e no pensamento.

 

Dentre as diversas classificações às quais o homem pode ser submetido, existe o grupo dos que imaginam saber tudo, e o dos que supõem não saber nada; ambas são posições equivocadas. Mas entre os primeiros há os que pretendem se aproveitar, enganar e submeter os do segundo. São os impostores, agentes da discórdia, predicadores, ilusionistas, farsantes de antiga data, que surgiram dentre os chefes de tribos primitivas e orientadores espirituais duvidosos.

 

Com os impostores foi surgindo a Grande Impostura, o grande engano, que levou o homem a olhar constantemente para fora, a materializar-se, submeter-se, fugir de si mesmo. Tornou-se um distraído, afastado de Deus; não se olha, não se enxerga e não se vê; um estranho em sua casa, pois lhe disseram que deveria ganhar o pão com o suor do rosto, divertir-se e nada mais.

 

É preciso refletir sobre o motivo pelo qual estamos aqui. Recorrer aos que pensaram e lutaram pela liberdade no passado, alguns entregando as suas vidas em sacrifício, espíritos dedicados e lúcidos, os quais deixaram eloqüentes pegadas a serem seguidas.

 

Não há maior realização humana que aprender a pensar por conta própria, livremente. Muitas vezes será necessário recorrer a quem já tenha percorrido parte deste trajeto.

 

A maior escravidão é a mental. O homem nasceu para ser livre e feliz, e a conquista da liberdade é mais importante que o pão de cada dia.

 

A vida é curta; quanto mais passa o tempo, ele se comprime; não devemos desperdiçá-lo, mas aproveitá-lo, fazendo de cada dia uma vida inteira, onde cada minuto se transforme em horas, dias e anos a nos ser úteis, e a quem nos suceder. Pensar sempre, e caminhar muito, física, mental e espiritualmente falando, para que nossos descendentes tenham alegria no coração, a maior dádiva que um ser humano possa experimentar.

 

Mais formoso que o Universo a nos rodear é o que existe em nossos corações. A nós incumbe ampliá-lo, para que possamos viver nele para sempre, e sentir o hálito perpétuo da eternidade.